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36 Encontro Nacional MGF

Mesa Orientadores

Paulo Santos será um dos intervenientes na sessão «Orientar os OrientadoresPaulo Santos será um dos intervenientes na sessão «Orientar os Orientadores

36º Encontro Nacional de MGF
Orientadores de formação passam também a ter a sua hora para diálogo e análise

À semelhança do que tem vindo a acontecer nos últimos anos com os internos (para quem foi criada a sessão «A hora do interno»), o Encontro Nacional passará ter uma sessão mais vocacionada para as preocupações e reflexões dos orientadores de formação, sob a designação «A hora do orientador». Nesta primeira edição, a sessão terá como tópico «Orientar os Orientadores» e será conduzida pela Associação Nacional de Docentes e Orientadores de Medicina Geral e Familiar (ADSO). Assim, a mesa (cuja duração deverá estender-se até aos 75 minutos) discutirá, entre outros tópicos, a importância de uma formação específica para se ser competente em educação médica. Contará com apresentações de Paulo Santos (presidente da ADSO), que falará sobre o desafio da educação médica contínua, de Luís Alves, que abordará o papel do orientador de formação e de José Augusto Simões, cujas palavras se focarão na formação de formadores e experiência dos cursos EURACT. Na breve entrevista que se segue, os representantes da ADSO e participantes nesta mesa explicam alguns dos principais desafios que se colocam aos formadores em MGF no nosso país. 

Como encararam, na ADSO, o convite para organizar esta mesa?

A ADSO - Associação dos Docentes e Orientadores de Medicina Geral e Familiar - é fundada em 2001 fruto da necessidade percebida de dotar a formação de uma organização capaz de alavancar a exigência de qualidade na educação pré e pós-graduada. Juntando médicos ligados à docência e à academia com os colegas que, no seu dia-a-dia, são os motores da formação nos respetivos locais de trabalho, a ADSO é o fórum para aprofundar a reflexão sobre a educação médica nos seus vários níveis de implementação.

Neste sentido, é com satisfação que respondemos favoravelmente ao desafio lançado pela AMPGF para estarmos presentes no Encontro Nacional de Medicina Geral e Familiar e particularmente nesta mesa dedicada a uma questão fundamental na educação médica que é a necessidade de garantir a qualidade dos formadores/educadores.

Julgam que tradicionalmente as necessidades e carências dos orientadores de formação e formadores em MGF são pouco debatidas e analisadas, por comparação com os desafios dos internos?

É uma realidade. Os aspetos da educação e formação médica tem-se colocado sempre do ponto de vista da definição das necessidades de formação e da construção da árvore de objetivos baseada na carteira de serviços a oferecer enquanto especialista de Medicina Geral e Familiar. E isto tem sido feito de forma satisfatória, com reflexo na qualidade da preparação dos jovens médicos para assumir de forma autónoma e plena o seu exercício profissional. Há um ponto de descontinuidade neste processo.

Desde que ingressa num estabelecimento de ensino superior, o futuro médico vai receber a sua formação dos mestres, primeiro de uma forma passiva num sistema de aprendizagem clássica, dirigida à aquisição de conhecimentos, e progressivamente exigindo-se uma participação mais ativa num sistema integrado de formação que garanta a aquisição de aptidões e competências clínicas e pessoais. No final da sua graduação, o estudante está apto para exercer medicina, mas reconhece-se a necessidade de um período complementar de formação específica para consolidação de competências na respetiva área de especialização. Até ao final dos internatos, o médico em formação é acompanhado por sucessivos tutores com diversos níveis de interação e progressiva autonomia. 

No final da especialidade, o título de especialista corresponde à certificação de um conjunto de competências que foram aprendidas, treinadas e apropriadas, decorrentes do perfil que se pede a um especialista. Notamos que não existe nenhuma formação específica sobre educação médica, mas, no dia em que é especialista, o médico passa a ser considerado competente e responsável para ser formador. Esta transição de ser formando e passar a formador é um ponto chave de todo o processo e não tem sido devidamente abordada, pese embora o hiato temporal comummente imposto entre o final do internato e a designação como orientador.

Só será bom formador quem tiver sido formado para isso. Na realidade, a carreira médica engloba competências de formador, sem que exista um programa específico de formação de formadores capaz de responder à exigência que se coloca neste processo.

Os orientadores que trabalham em contexto isolado, ou em pequenas equipas, longe de outros orientadores, estão particularmente em risco de serem ineficientes na sua função formativa?

Esta é outra face do problema. Como não há uma estrutura de promoção e garantia da qualidade nos formadores / orientadores do internato, os colegas fazem “o melhor que sabem” na sua unidade e muitas vezes no seu gabinete.

A questão não será tanto a distância do ponto de vista físico entre orientadores, mas a falta de interação nos processos. É possível que uma unidade de saúde tenha 5 orientadores e que estejam todos a trabalhar de forme ineficiente. 

Ser um bom orientador inclui a capacidade implementar o treino de gestos e tarefas específicas, o desenvolvimento do processo de raciocínio clínico, a criação de uma dinâmica de produção de conhecimento, a prática de avaliação contínua como elemento-chave para processos de melhoria da qualidade, o estabelecimento de competências éticas e sociais, a gestão da informação e dos recursos, liderança e humanização do atendimento. Muitos de nós fazemo-lo de forma mais ou menos eficaz. O objetivo tem de ser a profissionalização, dotando a formação de uma sistematização de processos promotora de efetividade e eficiência.

No presente, quando um profissional é escolhido para a função de orientador, é em geral analisada ao detalhe a sua capacidade e o seu currículo, ao nível da educação médica?

Como sabemos, a orientação de internos ou, de uma forma mais geral, a educação médica é um dever deontológico e ético. No próprio Juramento de Hipócrates vem o compromisso de “ensinar a nobre arte de curar”. A definição do conteúdo funcional da categoria de assistente engloba também a colaboração “na formação de médicos em processo de especialização, de médicos em formação básica e de alunos das licenciaturas em medicina ou de outras áreas da saúde” (art.º 11.º, 12.º e 13.º do Dec.-Lei 177/2009 de 4 de agosto). A questão não se coloca na “escolha”, pois à partida todos somos selecionáveis e tem-se colocado mais nas condições de idoneidade dos serviços para receber e orientar os internos em termos das estruturas físicas e naturalmente também dos recursos humanos.

A ADSO tem refletido sobre a necessidade de definir um currículo para os médicos que valide a competência em educação médica e que possa ser um padrão para os orientadores de formação dos internatos de formação geral e específica para a Medicina Geral e Familiar, mas extensível a outras especialidades, aproveitando a experiência que temos no ensino universitário e nos cursos de formação, sobretudo baseados no programa EURACT. Esperamos nos próximos meses poder começar a divulgar as conclusões deste trabalho.

Em conclusão. A educação médica é um dever ético e deontológico com que todos estamos comprometidos. Mas, para fazer educação médica é necessário ser competente em educação médica e isso exige uma aprendizagem e um treino específicos, que é função de todos, instituições de saúde, universidades e sociedades profissionais e científicas.

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