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36 Encontro Nacional MGF

Mesa Sono

Joaquim Moita, presidente da Associação Portuguesa do SonoJoaquim Moita, presidente da Associação Portuguesa do Sono

Problemáticas associadas ao sono e uso abusivo de BZP vão estar na berlinda

 

Sessão certamente chave do próximo 36º Encontro Nacional de Medicina Geral e Familiar (MGF) será aquela que abordará as questões relacionadas com as patologias do sono, a sua correta gestão e higiene, intitulada «Vamos dormir? Sono e descontinuação de benzodiazepinas»

 

Esta é uma mesa que será moderada por Miguel Pereira (médico de família da USF Mondego e membro da Direção Nacional da APMGF) e na qual participará Joaquim Moita (presidente da Associação Portuguesa do Sono – APS – e coordenador do Centro de Medicina do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra – CHUC), o qual traçará um retrato das patologias do sono em Portugal. Referência também para as presenças da psiquiatra com competência de Medicina do Sono Joana Serra (que incidirá a sua comunicação sobre a insónia e as terapêuticas alternativas às benzodiazepinas – BZP) e da médica de família (MF) e membro do GRESP Cláudia Vicente, a quem caberá transmitir a prática clínica do MF neste domínio bem como dissecar as possíveis formas de melhorar a articulação entre CSP e cuidados diferenciados, sobretudo através de parcerias como aquela que foi estabelecida com o Centro de Medicina do Sono.

Joaquim Moita afirma que há algo que o preocupa muito neste momento e que gostaria de discutir com a MGF: “a chamada insónia crónica, que atinge cerca de 10% da população portuguesa e que tem consequências graves. A pessoa com insónia vive, no dia seguinte a uma noite mal dormida, com sonolência e fadiga, tem diminuição das capacidades cognitivas, problemas de memória e instabilidade emocional, podendo até experimentar alterações de natureza física. Mas sabemos hoje que a insónia cronica acarreta consequências ainda mais graves do que estas que se referem à perturbação do dia seguinte. Os indivíduos com insónia de longa duração têm, muitas vezes, decorrentes dessa mesma insónia, doenças cardiovasculares e diabetes do Tipo 2”.

A insónia surge também amiúde relacionada com patologias do foro mental, como depressão e ansiedade. O presidente da APS relembra que é comum o MF ou o psiquiatra que acompanha o doente “tratarem a depressão ou a ansiedade, mas sem preocupação de resolver a questão da insónia. Quando tal acontece, muitas vezes a insónia mantém-se como patologia autónoma. Queremos chamar a atenção, nesta mesa, para tal facto. A insónia pode ser desencadeada por outra doença, mas posteriormente adquirir um papel próprio”. O número de casos de insónia que estão intimamente ligados com a Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) também é significativo, sendo fundamental tratar e medicar as duas condições em conjunto e de forma equilibrada. Esta relação próxima entre insónia e SAOS será objeto de cuidada análise na sessão do 36º EN.

 

As alternativas às BZP existem e devem ser usadas na prática clínica

 

Muito tem sido debatida a prescrição e consumo abusivo de BZP em Portugal, para os quais concorrem com toda a certeza os problemas de sono que enfrentam diariamente os portugueses. Mas a verdade é que as BZP representam, a médio e longo prazo, uma má opção para a gestão dos problemas de sono, existindo outras alternativas bem mais efetivas e menos prejudiciais para a saúde dos doentes, como explica o coordenador do Centro de Medicina do Sono do CHUC: “Portugal é o país da OCDE que consome mais BZP per capita, um padrão que tem crescido ao longo dos últimos anos e apesar do aumento em paralelo da prescrição dos antidepressivos. É correto, em casos de insónia crónica, tratar com uma BZP, mas sempre na perspetiva de que o tratamento não pode ultrapassar as quatro semanas. A partir daí estes medicamentos provocam dependência, têm efeitos secundários graves e deixam de ser benéficos para o próprio sono”.

Joaquim Moita reforça que para tratar estes doentes estão disponíveis outros caminhos, não só opções medicamentosas diferentes, mas também intervenções não farmacológicas, como a terapia cognitivo-comportamental.

Pese embora a existência destas soluções mais benéficas para os doentes, o pneumologista reconhece que para grande parte dos MF do país se torna difícil garantir o acesso dos seus utentes às mesmas: “em Portugal não existem médicos em número suficiente com este tipo de competências e conhecimentos e escasseiam as estruturas, as unidades especializadas, que possam dar apoio à MGF nesta área. De qualquer forma, é importante para o MF perceber até onde pode ir e a partir de que ponto deve procurar referenciar o doente para um centro mais diferenciado”.

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